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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Confissões de um ceifeiro

Texto de minha autoria, espero que gostem =D


~Confissões de um ceifeiro;

 - Não sei se estou com pena... ou se estou simplesmente me deteriorando com o tempo. Já perdi as contas de quantos anos se passaram desde que eu iniciei essa jornada sem fim em busca de sempre mais... Agora percebo que talvez essa fosse a escolha errada. Talvez eu devesse simplesmente ir para o outro plano quando eu morri... mas não foi bem assim... eu fui contratado como ceifeiro, a pior profissão do mundo... Lembro-me como se fosse ontem meu primeiro trabalho como ceifeiro... foi no Japão, no dia daquela bomba que explodiu lá naquela cidade, Hiroshima. Lá estava eu, andando lentamente no cenário devastado causado pela explosão da bomba atômica. A radiação ainda estava no ar, em forma de uma densa nuvem verde. No meio da cratera, vários corpos estavam jogados como se não valessem nada. Uns sem membros, alguns carbonizados. Quase não tive coragem de olhar, mas esse é meu trabalho. É minha função levar as almas para o outro mundo . Uma função relativamente importante. Mas isso não tinha importância. Fui me aproximando do primeiro cadáver. Era uma mulher, segurando uma criança carbonizada em seus braços. Ao lado dela, um casal de velhos choravam incessantemente. Talvez sofrendo a perda de uma filha, ou neta. A expressão de desespero marcada em seus rostos nunca mais saiu de minha mente. Era como uma tatuagem permanente; uma vez feita, nunca mais sairia da pele. Mas era uma tatuagem macabra, triste. Eu lá, de posse daquela foice; arma magnífica que poderia ter sido usada para outros fins, Não percebia que as lágrimas já escorriam inconscientemente por minha face pálida e fria. Não sabia o que tinha acontecido, mas talvez por ser um primeiro trabalho como ceifeiro, ainda restasse um pingo de humanidade em mim... mesmo que ela fosse mínima, mas ainda restava. Não havia nada que eu pudesse fazer... Eu sabia que aquele casal de velhos também ia morrer em alguns minutos, devido a radiação no ar... mas acho que eles sabiam disso. Eles somente queriam passar dessa vida junto a sua filha, ou neta. Eu sabia o que devia fazer, e quanto mais demorasse, mais a culpa seria minha. Então eu brandi a foice em direção ao corpo morto da mulher e da criança, içando duas pequenas esferas brilhantes na ponta de minha lâmina. No mesmo instante, o casal de velhos tombou no chão, tossindo sangue. Eu sabia que aquela era minha hora denovo. Não podia perder essa oportunidade. Então brandi a foice em direção aos velhos, e arranquei impiedosamente a vida daquele casal. Estava feito. Nada poderia reverter aquilo. Ajeitei a gravata e a lapela de meu terno negro, guardando a foice nas costas. Desviei meu caminho dali, pois eu sabia que outros ceifeiros viriam para tomar as almas das outras vítimas. E assim foi meu primeiro trabalho... Hoje, já não me lembro mais a quanto tempo faz... não sei que dia, que hora, que mês ou que ano é no momento. Só sei que tenho que continuar essa jornada maldita. Pararei por aqui... se fosse descrever como é ser um ceifeiro, não caberia nesse papel. Devo parar por aqui. Escuto gritos desesperados, e já sei o que é. O dever me chama. ~ 

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